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As figuras que se fazem por causa da música.


Será que já alguma vez fizeram alguma má figura, por causa da música?
Eu já. Várias vezes.
Quando comecei a aprender a dançar, havia a moda do rockn' roll , depois apareceu o Disco, e depois o Break Dance, e depois, eu resolvi ganhar juízo, porque já andava a magoar-me por dançar mal.
Sempre gostei de dançar, e sempre soube que dançava bastante mal.
Mas o gosto tem-me levado a insistir.

A história que vou contar, tem a ver com as músicas que gostanmos de ouvir.
Certa vez, o meu companheiro de escola e Liceu, o Francisco Lacerda (Chico Pianista), ao estar a tocar piano, sem saber o que escolher para tocar a seguir, começou a demonstrar que tipo de obras é que lhe serviam de tema de estudo durante as suas lições.
Às tantas tocou uma marcha fúnebre.
Pois. Porque os músicos devem saber tocar músicas solenes, para casamentos, reuniões sociais, obras de carácter romântico, e até para funerais.
Estas músicas assim, chamadas pelo nome de marchas fúnebres são habitualmente utilizadas quando há uma família que requisita os serviços de uma Banda Filarmónica, contratando-a para esse efeito, mas mais habitualmente, quando morre um músico.
Nessa altura isto assume um carácter muito emocional, senão trágico, pois os próprios músicos que estão a tocar são amigos do falecido.
Portanto, não é algo que se toque de gosto, por um lado, mas faz-se gosto em que esse amigo tenha esta música no seu desfile cerimonial.
Isto é um costume europeu, que não é praticado ou aceite como natural por todas as pessoas em geral, e por alguns em particular.

A marcha fúnebre que o meu amigo Francisco Lacerda tocou no piano, era realmente uma obra muito bem feita, e era bem tocada por ele. Apesar de ter apenas 15 anos de idade. Estudava piano há cinco.

Eu procurei saber o nome desta música. Uma vez ouvi-a na televisão. Outra vez na rádio. Mas o nome dela, para ter o disco, é que não fui capaz de encontrar.

Certo dia, o meu avô Joaquim António e a minha avó Rosária, convidaram-me para ir com eles a Portalegre passar um fim-de-semana a visitar o meu tio Inácio .
Estavam lá os sogros dele, e o cunhado e esposa, e eu fui também.
Claro que gostei do passeio, apesar de ter feito uma viagem extremamente demorada, pois como todos sabem, viajar de autocarro, alem de se ir mais apertado, tem muito mais curvas, demoras nas ligações, e períodos de espera nas paragens do que viajar de comboio.
Portanto, de Reguengos a Portalegre, levava-se mais tempo do que até Lisboa. Em Évora, esperava-se das 11 e tal da manhã até às 16 horas.  E em Arraiolos, esperava-se mais hora e meia por outra ligação. Saída no Corval às 20 para as 7 e chegada a Portalegre depois das 18 horas.
Na cadeira de um comboio, costumava-se almoçar, ou lanchar, nesse tempo, mas num autocarro...aliás, numa camioneta da carreira, nem pensar.

Bem, nessa noite, ao serão, descuidei-me e deixei acabar o tabaco.
Estivera tempo demais a fumar no terraço, porque estava à espera de saber na semana seguinte a resposta de uma rapariga sobre uma coisa pessoal que eu lhe tinha perguntado.
De manhã,,, nem quis esperar pelo pequeno almoço, fui logo à rua ver se comprava tabaco.
Pois estes vícios que se têm, são um problema, e eu levei 20 anos a livrar-me do vício do tabaco.
Mas felizmente que já o ultrapassei.

Estava eu tranquilamente a descer pela rua abaixo, a procurar um café ou algo assim, quando vejo o quê?
Imaginem o que estava à minha frente: uma banda de música.
Atrás deles, estavam muitas pessoas que não estavam fardadas, e seguiam todas na mesma direcção. Levevam às costas o que me pareceu um andor, mas era baixo.
Parecia uma procissão daquelas das festas.
Começaram a tocar a tal música que o Francisco Lacerda tocava.
Depois é que eu vi, que se por um lado, os músicos iam fardados de azul, por outro lado, os que os seguiam, também pareciam ter o mesmo alfaiate uns dos outros, pois iam todos de preto.
Era um funeral.

Ora que chatice! Tinha morrido alguém, talvez um músico.
E lá iam eles a tocar aquela música que tanto me impressionara.
Os meus ouvidos absorviam o som das notas, e eu nunca tinha ouvido aquilo tocado por uma orquestra ao vivo, que como sabemos, produz um efeito muito superior ao som gravado.
Resolvi gravar a música na minha memória, uma vez que não a ouviria tão depressa.
O que é que pensam que eu fiz?
Fiz como fazem os adolescentes nos filmes quando se querem infiltrar nas festas. Camuflei-me e misturei-me.
Escondi melhor o meu lenço de assoar no bolso, porque tinha uma cõres misturadas, e quanto ao resto da roupa, eu nessa altura usava preto e branco.
Fui-me juntando ao enterro, fiz um semblante muito sério, e daí a bocado já pensavam que eu era algum parente distante.
Ia ouvindo a música, mas estava atento para não ir sempre próximo das mesmas pessoas, porque tem que se saber como não ser interpelado nessas ocasiões .
E lá estava eu, feito espião musical, a aprender sabem o quê? A Sonata nº 2 do Chopin.

Quase a chegar ao cemitério, penso eu, a banda parou de tocar, e não pareciam ir recomeçar tão depressa.
Tinha chegado a hora de eu me ausentar da cerimónia. Fui-me chegando para fora do grupo, e atrasando o passo.

Depois voltei-me para trás e fui ao meu caminho.
Mas qual caminho?
Estava perdido.
Numa parte nunca visitada do Alentejo.
Como é que fazia? Entrava num café e perguntava: -Viram aí o Ti Joaquim?
Só, perdido e isolado numa cidade cheia de altos e baixos, e de pessoas que eu nunca vira, algumas das quais tocando fardadas de azul...e sem saber que resposta ouviria na semana seguinte, e se ouviria alguma, ou se receberia algum estalo na cara.
O mais certo era a segunda hipótese, porque eu costumava levar muitas tampas nos bailes. mas também dançava muito. Mal, mas muito, sempre que quisessem dançar comigo.
Pois perguntei onde era o café Central, porque todas as terras mais ou menos grandes têm um café chamado Café Central, e se não tivesse, diziam-me onde era a praça principal.
Fui para lá e mandei vir uma bica para poder estar a ocupar uma mesa sem me chatearem.

Levava no bolso uma esferográfica, e um livro de formato fino chamado Sexualidade e Repressão. Era um livro de psicologia que vinha num pacote de livros com desconto que eu tinha comprado no terminal do Rossio uns meses antes.
Começei a ler e a escrever comentários nas margens. De vez em quando lançava um olhar circunspecto e via que estavam a reparar em mim: de cabelo comprido, magro, com 17 anos, meio barbudo.
Estive para perguntrar se viram o meu avô, mas claro que era uma piada de circunstância.
Daí a bocado, tal como eu previra, o meu avô estava a mostrar o tal café ao seu compadre e eu já tinha chegado primeiro.
É que eu ainda não tinha dito que já se tinha combinado que o ponto de encontro era antes de almoço naquele café, que por acaso até nem tinha esse nome, e penso que era Alentejano ou algo assim. Mas o sentido era o mesmo.
Levei quase uma hora a beber a tal bica. Foi um duelo de resistência entre mim e o empregado.
Porque notei que ele estava a pensar que eu ia sair sem pagar, e resolvi dar-lhe uma preocupação.
Foi uma partida.

As coisas que se podem fazer aos 17 anos numa terra desconhecida quando nos perdemos por ter andado infiltrados nos  afazeres das outras pessoas.
Já agora vou colocar aqui o link onde se encontra esta música tocada por uma orquestra, apesar de ela ser uma obra para piano. É assim que eu gosto mais de a ouvir.
Não se esqueçam do nome, para a poderem procurar, ou para a evitar.

http://youtu.be/ZYB3yyu0UrQ




Domingos.

História de um baterista




por Domingos Silva Saude a Segunda-feira, 8 de Agosto de 2011 às 14:31 ·
Passava das duas da manhã.
As pessoas buscavam as suas cadeiras. Os rapazes dirigiam-se para a porta da sala, colocando a mão no bolso da camisa para tirar o maço de tabaco, enquanto se dirigiam para o bar.
Era o intervalo de série.
O baile estava correr melhor do que eu esperava.
A terra onde estávamos era uma terra que eu não conhecia, mas as pessoas pareceram-me bastante simpáticas.
Foi em Vale do Pereiro, e estávamos no princípio dos anos 80's.
O nosso baterista era novo no grupo. Na realidade, era o seu primeiro baile.
Estava muito nervoso antes de começar, mas nós tranquilizávamo-lo, dizendo que não era assim tão difícil como parecia, e que as pessoas não iam reparar se ele se enganava a tocar ou não.
O que é certo é que ele tocava melhor do que nós esperávamos. Tocava com naturalidade, e tinha muita agilidade, e uma batida segura.
Mais do que isso: ele curtia o que estava a tocar, mesmo que a música fosse daquelas menos interessantes.
Dificilmente se vê alguém com uma tal cara de satisfação, enquanto toca num baile.
E como sabemos, é das actividades que dão mais prazer numa reunião social. É como estar a dançar com o salão todo ao mesmo tempo. É isso mesmo: as pessoas às vezes estão a dançar separadas, à volta de uma roda, num pequeno grupo. Pois nós lá no palco, estamos a dançar desse modo com o baile todo, enquanto tocamos.
É esse tipo de alegria que sentimos.
Naquele tempo eu fumava, e enquanto estava a acender o cigarro, fui ao pé da bateria, e perguntei ao nosso colega novo:
-Tarela, o que é que estás a achar disto?
E ele respondeu:
-Escreve o que eu te vou dizer: É a noite mais feliz da minha vida.
E eu respondi:
-Eu sei o que isso é. Também toco há pouco tempo. Desejo que tenhas muitas noites como esta e por muitos anos.

Quando o encontrei durante a semana seguinte, ele andava todo contente. Pois agora era músico de bailes. O baterista do conjunto da Vendinha. O Grupo Aliança.
Os seus amigos da sua terra, Reguengos de Monsaraz, também estavam contentes com ele.
Achei que agora já não estava tão tímido, pois ser tímido era a sua principal característica, juntamente com a imensa amizade que demonstrava aos seus amigos.
Notava-se isso, quando nos estava a apresentar aos amigos.
Ele ainda mal me conhecia e ao apresentar-me aos amigos da sua terra, parecia estar a apresentar alguém extremamente importante, e o mesmo acontecia com as pessoas a quem me apresentava.

Era assim o Tarela.

No fim-de-semana a seguir  a esse baile, houve um baile na Sociedade Artística de Reguengos de Monsaraz.
Nós não tocávamos nesse dia, e o amigo Tarela foi ali ao baile.
Eu nunca o vi dançar. penso que a sua timidez era tão grande que só dançaria se o convidassem. mas posso estar enganado, porque não o conheci nesse âmbito. Também nunca teve namorada.
O que é certo é que ele foi dançar com uma das suas amigas. E na pista de dança, a uma certa altura deixou-se cair suavemente para o chão e ali ficou.
Foi assim que me contaram, porque eu não estava presente.

Foi um artista de Reguengos, que fez um baile e morreu jovem no fim-de-semana a seguir.
Nunca saberemos até onde iria na carreira musical, ou como seria a sua vida daí para a frente.

Foi uma daquelas pessoas que gostei de conhecer e trabalhar com ele.
Registo aqui a frase que me ficou na memória sobre o seu único baile:

-Domingos,  escreve isto que eu te vou dizer: Esta é a noite mais feliz da minha vida.


Está escrito, para que se leia.


                                                                                                            Domingos.

Pizza Margherita adaptada à Domingos.
 


Adivinhem o que é a base desta receita.
Acertaram. É a famosa, excepcional,  belíssima, extraordinária, nutritiva e inolvidável Pizza Margherita.
Colocamos a pizza em cima de um prato grande para começarmos a dispor os ingredientes.
Utilizam-se neste caso as pizzas de 300 gramas que se vendem no Lidl (deviam pagar a publicidade), porque servem para ser uma boa base, uma vez que são baratas, e parece que não têm nada lá em cima, alem de terem um sabor neutro: a nada.
Colocam-se sobre ela duas fatias grandes de fiambre do Pingo Doce (passe a publicidade porque eles lá são tão bons que nem precisam) (o meu filho trabalha num destes estabelecimentos), colocam-se duas fatias de queijo daquele que há lá na charcutaria sempre acabado de cortar.
Depois regressa-se ao Lidl para adicionar pedaços de bacon daquele que lá há numa embalagens de plástico em forma de caixinhas.
Uma pizza destas vai saber sempre a pouco, e então tem que ser enriquecida com algo que dê a sensação de se ter comido muito.

Utiliza-se para isso e para melhorar o sabor, a famosa manteiga (verdadeira, e não margarina) de meio sal do Pingo Doce. Como se aplica?

Colocam-se aqui e ali umas raspas de manteiga em lugares estratégicos de forma que quando derreta fique igualmente distribuída e não escorra para fora enquanto estive dentro do forno.
Já que ali estamos, há lá umas embalagens de ketchup muito boas para se arrumar na vertical com a boca virada para baixo. Usam-se para dar colorido e sabor à nossa pizza.
Coloca-se portanto uma  quantidade generosa deste belo e avermelhado produto que irá adocicar e perfumar o nosso excelente pitéu.

Temos que ter em conta que se colocarmos ketchup demais, ao cortar as fatias, irá escorrer bastante facilmente. A regra é colocar ali todo o que se conseguir.

Bastante.

Neste momento, podemos levar a pizza ao forno.

Isto é para uma preparação rápida e portanto não é necessário aquecer antecipadamente o forno. 

Coloca-se assim mesmo, acende-se, e deixa-se ali 12 minutos exactos.
Se for 13 minutos, a parte de baixo começa a ficar crocante, e apesar de dizerem que é moda, é uma moda passageira porque isso sempre foi considerado uma asneira e distracção da cozinheira.
Vão por mim, que eu estou gordo, sei do que falo.
Depois de se tirar do forno, é que se colocam muitas azeitonas das pequenas por cima. Não é forçoso que sejam pretas. Isso é mais importante nos pratos de bacalhau. Colocam-se todas as que não rebolarem.
Só são colocadas nesta altura para não secarem dentro do forno, porque senão ficavam muito enxovalhadas, e pareciam umas ameixas daquelas que o chinês deixa cair dentro da galinha chop soy (ainda se fosse ameixa...) .
Olhem, está pronto a comer. Para quantas pessoa dá?
Então é assim: se não acompanharem com mais nada, do tipo batatas fritas e salada, a pizza é a dose de uma pessoa.

Eu já duas vezes comi uma destas assim preparada inteira.

Mas não é sempre que se consegue.
Hoje só consegui comer metade de uma porque coloquei também cinco fatias de chourição, cortadas em pedaços na tábua de cortar.





 

                                                                                                                                                                                          Domingos                                     

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